segunda-feira, 16 de julho de 2012

O quarto ao lado.

E aí que chega uma hora que você percebe que tudo aquilo que se tinha como certo, como palpável, como `preto no branco`, na verdade é amarelo no rosa, é azul no roxo. E as coisas ficam sem forma, saem do foco, daquilo que era o que costumava ser. E aí que você se dá conta de que os anos passaram, de que as coisas mudaram... e você percebe que alguns amigos de hoje são os mesmos de 10 anos atrás, mas que alguns dos amigos de 10 anos atrás você já nem tem o telefone. A realidade vem e te atinge de tal maneira que é inevitável se deparar também com a nostalgia, a saudade enorme e absurda dos dias de bicicleta no parque, de quando a briga maior era sobre quem ia enxer as formas de gelo. Hoje, a dimensão é outra. Uma hora você olha pro lado e.. puf! Não tem mais ninguém no quarto ao lado, não tem mais piadas no corredor, não tem mais provocação besta... e também não tem mais confissões baixinhas, não tem massagem no pé, não tem vídeos engraçados, não tem brincar de lutinha, não tem CRASH no playstation... você chama, chama, e não tem mais ninguém no quarto ao lado.


Fato que esse dia iria chegar. O tempo passa, as pessoas crescem - nem sempre amadurecem - e seguem em frente, né? Coisas da vida, essa vida louca.. Mas a gente nem sempre quer abraçar a realidade tão intensamente como ela precisa ser abraçada quando o momento chega. A gente quer afastar, evitar, retardar, porque é sempre melhor conviver com o `ainda`. Parece até meio mórbido isso tudo que estou falando, mas não tem nada de mórbido nisso tudo, não. São as despedidas da vida, não aquelas pra sempre, mas aquelas que finalizam um ciclo - seja ele qual for - o qual você estava acostumada desde criança. Desde que nasceu. Desde sempre.




Quando você foi morar fora, fazer intercâmbio, eu chorei, me descabelei, sentei no seu quarto - quase - todos os dias e senti saudade, muita saudade. Só porque não tinha ninguém no quarto ao lado. E esse medo todo aparece agora, mais do que nunca, porque por enquanto ainda não aconteceu, ainda tem alguém no quarto ao lado. Mas e depois? A saudade vai vir tão forte quanto veio em 2007? (ou em 2001?). Claro que eu sofro por antecipação, claro que me descabelo inteirinha por dentro mesmo sem saber se tenho motivo pra tanto, e claro que sou assim mesma. Intensa, reservada e, acima de tudo, uma irmã mais nova, angustiada em saber que o quarto ao lado não terá mais ninguém.


Natália Vicentini

Um comentário:

  1. Olá, só queria dizer que gostei muito do texto ^^
    Ele abordou um tema que me fez refletir sobre algo e gostaria de saber sua opinião sobre esse algo, se não for incomodar :]
    Tipo, eu estou pretendendo sair da minha cidade, no Paraná, para cursar a USP, mas eu tenho um irmãozinho pequeno de 12 anos. Estou muito preocupado em ir para São Paulo, pois meu pai não se encontra presente e minha mãe trabalha meio período e faz faculdade. Tenho medo de deixá-lo solitário, o que você pensa sobre isso?Devo fazer algum curso por aqui mesmo?

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